Link Supesp: terceiro entrevistado fala dos desafios à frente do PreVio, vida de atleta e rotina
13 de março de 2025 - 19:48 ##supesp #Link Supesp #PreVio
Texto e fotos: Aécio Santiago/Ascom Supesp e Ascom PreVio Arte: Juliana Mendes/Designer Supesp
O sonho de ser atleta de handebol foi dos 13 aos 38 anos de idade, quando uma lesão o obrigou a parar. Mas até onde pôde viver seu sonho, Avilton Júnior, 44, recusou bolsas de estudos em colégios como Ari de Sá, Farias Brito, simplesmente porque não tinham a modalidade como opção nas atividades extra classe. “Minha mãe passou um bom aperreio por conta da minha teimosia, porque ela queria muito que eu estudasse em escola particular com uma bolsa. Mas não dei preocupação com meu desempenho em sala de aula. Sempre fui muito bom aluno”, disse sorrindo o agora coordenador executivo do Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência do Estado do Ceará (PreVio), vinculado à Casa Civil do Governo do Ceará.
Na maioria de processos seletivos que participou, o recrutador sempre dizia que faltava algo para ser contratado. “Segundo os entrevistadores, nas dinâmicas de grupo, meu perfil não se encaixava por um ou outro detalhe; ou parecia muito introvertido ou corresponderia além do necessário. Acho que nasci para ser servidor público. Atuei um tempo como pesquisador do IBGE até que ingressei no setor público na Secretaria de Planejamento (Seplag)”, conta o coordenador.
Avilton Júnior coordenou a realização dos seminários municipais do PreVio em fevereiro e março de 2025
Doutor em Gestão pela Universidade de Coimbra (Portugal), mestre em Economia do Setor Público pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Administração Pública pela Faculdade Integrada do Ceará (FicC/Estácio), a série de entrevistas Link Supesp conversou com Raimundo Avilton Meneses Júnior, sobre os desafios e perspectivas à frente do PreVio, projetos e muito mais.
Supesp – Como veio o convite para ser coordenador do PreVio?
Avilton – Eu estava como secretário executivo na Secretaria de Planejamento (Seplag) e durante um processo de reestruturação eu vi uma oportunidade para assumir um novo desafio na área de inovação, que é alvo da minha pesquisa em doutorado sobre criatividade no setor público. Houve uma articulação com a Casa Civil e veio o convite para o cargo de assessor de Prevenção à Violência, na época uma assessoria, e agora o Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência do Estado do Ceará (PreVio).
Então, identificamos uma chance de congregar meus conhecimentos em planejamento em gestão e aliar com a equipe aqui do PreVio, tendo em vista a necessidade do programa passar por uma intensificação, principalmente na sua execução.
Supesp – De que forma analisa o PreVio na conjuntura complexa que é o trabalho de prevenção à violência?
Avilton – O programa é extremamente inovador e é muito complexo nesse sentido. Ele foi pensado com uma configuração estratégica inovadora, indo além do excelente trabalho que já é feito pelas forças de segurança, que atuam na repressão, investigação, inteligência criminal, até mesmo com o forte trabalho da Supesp. E o PreVio veio integrar esses esforços e projetos com foco prioritário na prevenção, foi desenhado a partir do diagnóstico da Supesp, dos municípios que concentravam maior índice de criminalidade e daí vem todo o conjunto de estratégia para reduzir a violência juvenil, violência de gênero e também para promover a melhoria na investigação policial.
Supesp – Quando aceitou o convite de assumir a coordenação do PreVio, já tinha alguma experiência nessa área de trabalho, principalmente voltado para a prevenção da violência?
Avilton – Na verdade, como eu sou um analista de planejamento e orçamento na Secretaria do Planejamento e Gestão, eu coordenei o planejamento do estado durante cinco anos e, antes disso, eu monitorava projetos e trabalhava muito em análises de políticas públicas; então é um setor que possui muita capilaridade de integrar políticas de estado com várias secretarias e passamos a ter conhecimento de várias temáticas. Dessa forma, discutíamos essas políticas da segurança, educação, ação social até a segurança pública.
Adolescentes participam do Projeto Jovens Mediadores, coordenado pelo PreVio
Supesp – Que desafios maiores você identifica no projeto?
Avilton – O principal é o da integração como o próprio nome do programa indica. Integrar políticas, equipes, gestores, porque a gente trabalha com diversas políticas públicas dentro do PreVio, que tem os seus próprios programas e projetos que são implementados. Portanto, é fundamental trazer e manter um diálogo, a articulação política, aliar uma estrutura de governança, todos pensando e agindo conforme essa filosofia de trabalho, mesmo que haja divergências políticas partidárias.
Outro desafio é de criar as bases de uma política pública de prevenção à violência, então sua implementação por si só é muito complexa, tudo bastante desafiador porque são mais de 30 projetos em várias frentes e inúmeras ações e contratos.
Supesp – O PreVio foi criado em 2022?
Avilton – Foi assinado em dezembro de 2021 e em 2022 começou o seu trabalho de elaboração. Em 2023, avançou-se muito, particularmente no componente com a segurança pública, em 2024 tivemos um boom de contratos e dizemos aqui que 2025 é o ano do PreVio.
Supesp – O que significa isso?
Avilton – Significa que será um ano com execução de projetos, intensificando a governança com os municípios. Estamos agora na realização dos seminários municipais, já realizamos sete e fecharemos com Quixadá, Maracanaú e Fortaleza. Então, é o momento de aproximar o governo estadual por meio da nossa equipe da prevenção, agora essa com os governos municipais, o ano realmente de destravar e colocar o bloco na rua.
Supesp – Como está a experiência com os gestores municipais ?
Avilton – Na média está sendo boa, porque a temática da violência afeta a todos, de qualquer classe social, mais, claro, os grupos vulneráveis como jovens, negros, mulheres, e não causa tanta polêmica diferente de outras aéreas, então a população exige uma ação mais efetiva do poder público para a questão da violência. Isso acaba unificando os esforços. Talvez mais do que algumas outras políticas públicas, né? Desses sete encontros, só dois não tiveram a presença do prefeito ou seu representante direto.
Supesp – Como a Supesp contribui com o trabalho do PreVio?
Avilton – A Supesp não é apenas uma parceira, mas uma instituição extremamente necessária para a estratégia porque o PreVio foi desenhado e a partir do diagnóstico coordenado pelo órgão. E nós estamos nesse momento justamente consolidando os diagnósticos municipais na atualização dos dados feito em 2022 e já inserindo as informações de 2024 com as bases da segurança pública, da educação, da saúde, da assistência social; então a Supesp tem sido, como eu falo, o nosso cérebro, norteando as atividades do programa.
Supesp – Com o desenvolvimento do Observatório da Segurança pela Supesp, ficará mais viável identificar e planejar as ações do PreVio?
Avilton – Com certeza! hoje mesmo nós tivemos a apresentação dessa primeira versão e já avançamos para outras possibilidades de aprimoramento desse observatório; então ele tá sendo importante não apenas para nós do programa mas, também, dentro da perspectiva da estrutura de governança, que será usado pelos gestores, prefeito do comitê deliberativo para pautar as suas decisões e os recursos nas políticas públicas.
Quero elogiar bastante o trabalho de toda a da equipe da Supesp com a coordenação da Juliana Barroso, a participação do Eudázio, da Giovanna, sob a supervisão do superintendente Nabupolasar. Estamos no caminho certo para contribuir para uma política do Estado, sendo uma estratégia e tomada de decisão baseada em evidências.
Supesp – Que experiências exitosas na prevenção à violência você pode citar?
Avilton – O Virando o Jogo já tem uma trajetória e algumas ações iniciaram-se lá em 2019 e quando foi absorvido pelo PreVio foi de seis mil para 10mil vagas, de seis para 10 municípios do programa e atua naquele jovem que tá mais suscetível, pois não se encontra nem na sala de aula nem trabalhando. O Empodera tem resultados também significativos e tem atuado na transformação de mulheres vítimas de violência, reforçando em duas frentes, no empoderamento da autoestima da mulher e na sua autonomia econômica e nessa fase, do empoderamento pessoal, psicológico ou emocional, é nítida a transformação delas. Destaco, ainda, o projeto Jovens Mediadores, formando lideranças nas comunidades e grupos de jovens para fazer mediação de conflitos, aquele adolescente trabalhando na própria comunidade, onde vive, evitando que problemas maiores surjam, é uma prevenção na veia da violência.
“Tenho uma grande paixão por leitura, de romances policiais à literatura de realismo fantástico, de Gabriel Garcia Márquez passando por Clarice Lispector a Dostoiévski. Tive uma formação muita ligada com minha mãe, que continua sendo uma inspiração por sua persistência com a vida. Infelizmente vi esse problema da violência de perto, perdi alguns amigos e, talvez, de alguma forma, isso tenha me trazido para este desafio hoje.” (Avilton Júnior)