A ciência de dados e a estatística a serviço da segurança pública

26 de abril de 2022 - 15:59

Poucas pessoas sabem, mas durante a segunda guerra mundial, foram feitos vários estudos, através da estatística, entre eles, alguns para entender a configuração ideal de lançamentos de bombas pelos aviões aliados e para prevenir que os aviões fossem abatidos ao serem atacados. Ao longo do século XX os métodos estatísticos utilizando ciência, tecnologia e lógica, foram aperfeiçoados, para a investigação e a solução de problemas em várias áreas do conhecimento humano. No caso do combate à criminalidade, seu uso é essencial por parte dos governos e das forças policiais. Dados estatísticos, análises criminais, mapas, séries temporais, dashboards, entre outros, integram a rotina de profissionais da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) que trabalham na Gerência de Estatística e Geoprocessamento (Geesp).

Da esquerda para a direita, a equipe da Geesp/Supesp Thiago Oliveira, Lorena Cândido, Leontino Queiroz, Franklin Torres, Everton Souza, Ulysses Camurça, Matheus Osterno e Alice Pontes

Na terceira reportagem da série comemorativa ao quarto ano de aniversário da Supesp, vinculada da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), conheceremos mais sobre esse setor responsável não apenas pela geração dos dados, mas, sobretudo, por sua leitura detalhada e científica, o que possibilita uma compreensão mais precisa para tomada de decisão dos gestores e da elaboração de políticas públicas para a segurança pública no estado do Ceará.

Até 2009, não havia um setor que centralizasse as estatísticas oficiais do Sistema de Segurança Pública do Ceará. Apenas algumas estatísticas. Não havia conexão direta com as bases de dados. A célula de estatística da SSPDS era um dos núcleos de estatística existentes. Cada órgão fazia suas contagens isoladamente e alguns nem faziam, é o caso da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), que não tinha setor nem célula. A Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) tinha uma pessoa, mas não tinha um setor. A Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) tinha uma célula de estatística, mas não era oficial. A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) não tinha um setor, mas um núcleo que cuidava do registro dos cadáveres.

A partir de então, iniciou-se a centralização da estatística da SSPDS, com acesso direto às bases de dados. Ao se tornar Assessoria de Análise Estatística e Criminal (Aaesc), a estruturação e desenvolvimento de metodologias adequadas foram realizadas e, a partir de 2013, passou a ser a única instância oficial para dados de estatística geradas pelos órgãos da segurança pública estadual. Em parceria com as vinculadas e coordenadorias da SSPDS, em 2018, nasceu a Supesp, mantida como única instância oficial para a compilação e divulgação de dados estatísticos da SSPDS/CE. A partir daí, estava ampliado o escopo do que já era realizado no âmbito da segurança pública.

Nesta entrevista com o gerente de estatística Franklin Torres (foto acima), conheceremos mais sobre a funcionalidade desse setor estratégico para a segurança pública. Graduado em Estatística, com Mestrado em Administração e Controladoria, ambos pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Franklin Torres, 41, é atualmente o gerente da Geesp da Supesp. Foi membro pesquisador mestre do Observatório do Federalismo Brasileiro (OFB), vinculado à Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag-CE), e diretor de Estatística do Instituto Ampla Pesquisa e Opinião.

Ascom/Supesp – Você participou dessa fase inicial, quando o setor de estatística ainda não era uma gerência e nem existia a Supesp. Como o setor funcionava?

Franklin Torres – Em 2009, quando começamos com a estatística, primeiro conhecemos a base de dados e os sistemas utilizados eram poucos e o acesso era muito difícil. A partir daí, vieram os treinamentos e a aquisição de softwares. Passamos, então, a compilar os dados e tratar os dados com mais precisão para a elaboração de estratégias internas pelos gestores e posteriormente externas pelas forças de segurança.

Ascom/Supesp – Como a tecnologia ampliou o alcance da estatística? De forma prática, como os sistemas avançaram e como contribuem para uma melhor análise de dados para serem aplicados à segurança pública?

Franklin Torres – Os sistemas avançaram bastante no sentido de alcance. O Sistema de Informação Policial (SIP) da PC-CE, por exemplo, era restrito à cidade de Fortaleza e aos grandes municípios e, em seguida, foi universalizado para os municípios menores com a versão SIP3W em 2014. Com isso, foram homogeneizadas as versões do sistema. A cada mudança, automaticamente, já há a implementação em todas as delegacias. Com o desenvolvimento da tecnologia e ampliação desse trabalho, conseguimos informações estruturadas e homogêneas. Dessa forma, evoluímos bastante na questão do georreferenciamento, que nos possibilita a apresentação das manchas criminais. Hoje, temos o sistema Status (Sistema Tecnológico para Acompanhamento de Unidades de Segurança), que nos fornece dados de forma rápida e intuitiva.

Ascom/Supesp – Como as capacitações promovidas pela Geesp junto às forças policiais surtem efeito na prática, no dia a dia nas ruas?

Franklin Torres – As capacitações proporcionam que a gente dê mais autonomia às forças vinculadas da SSPDS-CE. Ao invés de depender do fornecimento de dados da Geesp, as próprias forças de segurança conseguem gerar seus dados, mapas, manchas criminais, de forma rápida e autônoma. Só precisa das atualizações. Isso é uma via de mão dupla, que gera benefícios para ambas as partes. Os agentes têm um acesso mais rápido e nós ficamos com mais tempo pra trabalhar em outras atividades, no aprimoramento das bases de dados, no desenvolvimento de novas estatísticas e análises, dando assim maior capilaridade em termos de estatísticas.

Ascom/Supesp – Como os sistemas Status, SPWeb, Painel Dinâmico, ajudam aos agentes de segurança na formulação de estratégias de segurança e combate à criminalidade?

Franklin Torres – Os sistemas ajudam na formulação de estratégias, quando eles acompanham os números de cada localidade de sua área no painel dinâmico. Com os sistemas, identificamos quais áreas são mais críticas e a polícia consegue atuar de forma mais planejada, quais os horários das ocorrências, quais os dias da semana, qual a distribuição e mapeamento, etc. Como toda estrutura funciona agora de forma homogênea, temos a unificação informações e de modo rápido e preciso.

Ascom/Supesp – A Geesp é formada por quantos profissionais e quais áreas de formação ou especialização?

Franklin Torres – A Geesp conta atualmente com oito profissionais, quase todos formados em estatística, sete, e um bacharel em administração, além de terem especialização em áreas variadas que contribuem com trabalhos diversos. Alguns têm mestrado em administração e de controladoria, em gestão de projetos, sistemas de tecnologias da informação até ciência de dados, para complementar esses conhecimentos aplicados aos sistemas de segurança pública.

Ascom/Supesp – Como são disponibilizados os dados estatísticos no site da Supesp e como isso fortalece o princípio da transparência da informação para o cidadão?

Franklin Torres – Mensalmente, no caso das estatísticas consolidadas, tanto no site da Supesp por meio do painel dinâmico, quanto no site da SSPDS, onde o sistema já é alimentado pelo setor da estatística no formato de PDF e Xls, com os dados abertos para pesquisadores, jornalistas e o público em geral.